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sábado, 18 de setembro de 2010

Eugenia - Texto II

Prof. José Roberto Goldim

Ao longo da história da humanidade, vários povos, tais como os gregos, celtas, fueginos (indigenas sul-americanos), eliminavam as pessoas deficientes, as mal-formadas ou as muito doentes.
O termo Eugenia foi criado por Francis Galton (1822-1911), que o definiu como:
O estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja fisica ou mentalmente.
Galton publicou, em 1865, um livro "Hereditary Talent and Genius" onde defende a idéia de que a inteligência é predominantemente herdada e não fruto da ação ambiental. Parte destas conclusões ele obteve estudando 177 biografias, muitas de sua própria família.
Galton era parente de Charles Darwin (1809-1882). Erasmus Darwin era avô de ambos, porém com esposas diferentes, Darwin descendeu da primeira, por parte de pai, e Galton da segunda, por parte de mãe. Darwin havia publicado "A Origem das Espécies" em 1858.
No seu livro, Galton propunha que "as forças cegas da seleção natural, como agente propulsor do progresso, devem ser substituidas por uma seleção consciente e os homens devem usar todos os conhecimentos adquiridos pelo estudo e o processo da evolução nos tempos passados, a fim de promover o progresso físico e moral no futuro".
O argentino José Ingenieros publicou, em 1900, um texto, posteriormente divulgado como um livro, denominado "La simulación en la lucha por la vida". Neste texto incluem-se algumas considerações eugênicas, tais como:
"Por acaso, os homens do futuro, educando seus sentimentos dentro de uma moral que reflita os verdadeiros interesses da espécie, possam tender até uma medicina superior, seletiva; o cálculo sereno desvanecería uma falsa educação sentimental, que contribui para a conservação dos degenerados, com sérios prejuízos para a espécie".
Em 1908, foi fundada a "Eugenics Society" em Londres, primeira organização a defender estas idéias de forma organizada e ostensiva. Um de seus líderes era Leonard Darwin (1850-1943), oitavo dos dez filhos de Charles Darwin. Ele era militar e engenheiro. Em vários países europeus (Alemanha, França, Dinamarca, Tchecoslováquia, Hungria, Áustria, Bélgica, Suiça e União Soviética, dentre outros) e americanos (Estados Unidos, Brasil, Argentina, Perú) proliferaram sociedades semelhantes.
Segundo Oliveira, a Sociedade Paulista de Eugenia, foi a primeira do Brasil, tendo sido fundada em 1918.
Na edição de 1920, Ingenieros ressaltou, em nota de rodapé, que as suas opiniões haviam sido confirmadas pela rápida difusão das idéias eugenistas em diferentes partes do mundo.
O 1o. Congresso Brasileiro de Eugenismo foi realizado no Rio de Janeiro, em 1929. Um dos temas abordado era "O Problema Eugênico da Migração". O Boletim de Eugenismo propunha a exclusão de todas as imigrações não-brancas. Em março de 1931 foi criada a Comissão Central de Eugenismo, sendo o seu presidente Renato Kehl e o Prof. Belisário Pena um dos membros da diretoria. Os objetivos desta Comissão eram os seguintes:
manter o interesse do estudo de questões eugenistas no país;
difundir o ideal de regeneração física, psíquica e moral do homem;
prestigiar e auxiliar as iniciativas científicas ou humanitárias de caráter eugenista que sejam dignas de consideração.
Em vários países foram propostas políticas de "higiene ou profilaxia social", com o intuito de impedir a procriação de pessoas portadoras de doenças tidas como hereditárias e até mesmo de eliminar os portadores de problemas físicos ou mentais incapacitantes.
Jiménez de Asúa defendeu a idéia de que as políticas alemã, italiana e espanhola nesta área não eram eugenistas, mas sim "racismo" oriundo do nacional-socialismo alemão. Vale lembrar que as idéias alemãs se originaram do trabalho do Conde de Gobineau - "Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas" - publicado em 1854. Antes, portanto, das idéias darwinistas terem sido divulgadas e do termo Eugenia ter sido criado. O Conde de Gobineau esteve no Brasil, onde coletou dados. Neste ensaio foi feita a proposta da superioridade da "raça ariana", posteriormente levada a extremo pelos teóricos do nazismo Günther e Rosenberg nos anos de 1920 a 1937. Outro autor alemão, Gauch, afirmava que havia menos diferenças anatômicas e hsitológicas entre o homem e os animais, do que as verificadas entre um nórdico (ariano) e as demais "raças". Isto acabou sendo objeto de legislação em 1935, através das " Leis de Nuremberg", que proibiam o casamento e o contato sexual de alemães com judeus, o casamento de pessoas com transtornos mentais, doenças contagiosas ou hereditárias. Para casar era preciso obter um certificado de saúde. Em 1933 já haviam sido publicadas as leis que propunham a esterilização de pessoas com problemas hereditários e a castração dos delinquentes sexuais.
Jiménez de Asúa propunha que a Eugenia deveria se ocupar de três grandes grupos de problemas: a obtenção de uma descendência saudável (profilaxia), a consecução de matromônios eugênicos (realização) e a paternidade e maternidade consciente (perfeição).
A profilaxia seria obtida através de ações tais como: combate às doenças venéreas, prostituição e pela caracterização do delito de contágio venéreo.
A realização ocorreria através da casais eugênicos e do reconhecimento médico pré-matrimonial.
A perfeição proporia meios para que fosse possível a limitação da natalidade, os meios anticoncepcionais, a esterilização, o aborto e a eutanásia.
Com o desenvolvimento das modernas técnicas de diagnóstico genético, do debate sobre os temas do aborto, da eutanásia e da repercussão da epidemia de AIDS, muitas destas idéias são discutidas com base em pressupostos eugênicos, sem que este referencial seja explicitamente referido.
Jiménes de Asúa L. Libertad para amar y derecho a morir. Buenos Aires: Losada, 1942:25-45.
Ingenieros J. La simulación en la lucha por la vida. 12ed. Buenos Aires: Schenone, 1920:166.
Oliveira R. Étique et medicine au Bresil. Villeneuve DÁscq (France):Septentrion, 1997:90-95.

Eugenia - Texto I

Eugenia

Pode se dizer que os princípios da eugenia apareceram com Darwin na idéia da seleção natural, que estabelece a existência de raças inferiores e superiores. Essa teoria não foi desenvolvida originalmente para se descrever seres humanos e sim animais. Seu primo Galton foi quem desenvolveu essa ciência que teve como foco aperfeiçoar a espécie humana com o auxilio da genética.

Galton adaptou a idéia de seleção natural à seleção voluntária, designando uma camada de seres, que por ele, foram considerados inferiores, já que em sua teoria cultura e conhecimento não eram fatores ambientais, porém fatores genéticos. Usando o trabalho de Georges Cuvier de maneira adaptada ele pode afirmar que a livre escolha para reprodução entre seres inferiores jamais beneficiariam a evolução da raça humana: esses seres eram vistos como um empecilho a o funcionamento do aprimoramento da raça humana.

Com a divulgação dessa idéia, nós meros humanos, nos transformamos em nada mais do que um mecanismo de aprimoramento da raça a serviço de um ideal de perfeição que era determinado por poucos.

Em 1907, a matéria eugenia foi introduzida na universidade de Londres e, logo após a fundação da sociedade eugênica Inglesa, serviu de base para a criação da sociedade eugênica americana em 1926. Pregando a superioridade dos germânicos sobre todos, inclusive outros povos caucasianos, o movimento eugenista era baseado na melhora da raça humana por cruzamento, com a finalidade de gerar a espécie perfeita. Nessa teoria não existe espaço para pessoas consideradas de raça inferior.

Quando a aceitação dessa tese saiu do âmbito da elite científica, o eugenismo foi dividido em positivo (favorecimento das raças superiores) e negativo (desaparecimento das raças inferiores).

Cabia a alta sociedade, e membros da aristocracia, determinar quem eram os humanos inferiores, que eram geralmente parte do povo trabalhador e comum. As pessoas no poder também tinham o direito de decidir se eles seriam retirados da sociedade ou mantidos em um regime de vigilância para evitar a reprodução de seres inferiores desnecessariamente.

Na era moderna, a eugenia foi aplicada em duas maneiras, dividida como básicas, denominadas diretas ou indiretas, sendo as indiretas tão sutis que provavelmente até hoje não difíceis de serem notadas. Podemos usar como exemplo o famoso aborto terapêutico, que infelizmente não é ligado à terapia. Na maioria dos casos, esses abortos deveriam ser feitos para salvar a vida da mãe, porém hoje em dia são usados para impedir que um bebê que não está dentro dos padrões da aceitação da sociedade nasça, pois sofre com algum tipo de anomalia física ou mental. Se esse tipo de aborto tivesse recebido o nome correto, ele se chamaria aborto eugenésico.

A esterilização forçada, masculina e/ ou feminina, é uma maneira direta de aplicar a eugenia, com a castração ou a assolação de seres não considerados adequados para a reprodução. Esse método foi muito utilizado mundialmente, principalmente durante o principio do século passado.



segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O CASO DE NATHANIEL WU

Nathaniel Wu, na época com 30 anos, trabalhava em um dos melhores laboratórios de pesquisa do mundo e tinha uma excelente reputação como pesquisador criativo e trabalhador dedicado. Seis meses após o nascimento de seu filho, Nathaniel e a esposa de 29 anos decidiram que era o momento de procurar um emprego mais estável e financeiramente seguro. Assim, foi com grande interesse que ele leu em uma revista científica uma boa oferta de emprego na Intercontinental Pharmaceutical Corporation – IPC. Candidatou-se imediatamente e foi selecionado pela companhia para se submeter a uma entrevista de seleção, para um cargo em sua equipe especial de pesquisa.

A Dra. Peters, chefe do comitê de pesquisa, teve uma série de entrevistas com Nathaniel e com outros três candidatos qualificados. Apesar de sua boa qualificação, os outros candidatos não tinham a mesma determinação e objetividade de Nathaniel Wu. Ela ouviu com atenção quando Nathaniel apresentou suas últimas descobertas para a equipe de cientistas do IPC. Eles também ficaram impressionados como conhecimento de Nathaniel, com sua habilidade como pesquisador e com seu potencial para contribuir com a equipe de pesquisa. Nathaniel prometia ser o tipo de candidato como perspectiva de ter uma longa e produtiva carreira na IPC, e era o tipo de pessoa que a equipe estava procurando.

Como Nathaniel era um cientista bem qualificado, havia uma expectativa de que seu conhecimento e dedicação à pesquisa resultassem na descoberta de novos medicamentos e tratamentos, principais objetivos desse projeto especial de pesquisa. Tais descobertas poderiam melhorar a qualidade de vida de inúmeras pessoas e aumentar dramaticamente os lucros da IPC. Para a empresa, investir alguns milhões de dólares para montar e sustentar o laboratório de Nathaniel parecia um bom investimento.

Havia, porém, uma pequena informação adicional que a Dra. Peters necessitava, antes de recomenda-lo ao Comitê de Seleção de Pessoal. Nathaniel teve de se submeter a exames de sangue para determin ar seu perfil genético, como todos os outros candidatos. O exame revelou que Nathaniel era portador do alelo para a doença de Huntington (coréia de Huntington). Quando perguntado sobre isso, Nathaniel revelou não saber nada a respeito de sua história familiar, porque havia sido adotado muito jovem. Após se submeter a um aconselhamento genético sobre as implicações dessa revelação, Nathaniel ainda desejava o emprego.

Para ter uma idéia mais clara do impacto dessa nova informação sobre sua recomendação, a Dra. Peters requisitou informações do diretor médico da IPC. As informações foram as seguintes:

A doença de Huntington (DH) é uma doença genética, com herança autossômica dominante; sua incidência na América do Norte é de 1 em cada 20mil pessoas, sendo extremamente rara em orientais. Pessoas portadoras do alelo para DH irão, em certa época da vida, em geral entre 35 e 45 anos, desenvolver os sintomas da doença. A enfermidade caracteriza-se pela degeneração progressiva de células nervosas no sistema nervoso central. O paciente começa a ter movimentos involuntários, com contorções nos braços e pernas e espasmos faciais. Alterações da personalidade, além de risadas impróprias, crises de choro, episódios de fúria, perda de memória, e comportamento bizarro, quase esquisofrênico, podem preceder ou suceder os distúrbios de movimento; o quadro clínico é muito variável. A enfermidade é fatal, com a morte ocorrendo entre 50 e 60 anos. O paciente geralmente entra em estado quase vegetativo nos últimos anos de vida. Apesar de não ser possível prever a idade precisa do início dos sintomas, o fato de Nathaniel ter atingido os 30 anos sem ter apresentado nenhum sintoma identificável significa que ele tem aproximadamente 60% de chance de que os sintomas se iniciem por volta dos 40 anos. Logo após o início dos sintomas, uma pessoa com doença de Huntington torna-se geralmente incapaz de realizar de modo seguro e produtivo os afazeres de um laboratório. O tratamento medico de um paciente com DH pode ser extremamente caro, requerendo internações em hospitais ou casas de saúde. Mesmo sem testar a Sra. Wu, pode-se prever que seu filho tem 50% de chances de ser portador do alelo para DH.

A Dra. Peters passou a enfrentar um dilema de consciência. Deveria recomendar a contratação de Nathaniel Wu pela IPC? Por um lado, ela sabia que sua habilidade como cientista o qualificava muito bem para o projeto científico especial. Ele poderia auxiliar a IPC a desenvolver novos produtos e trazer uma grande quantidade de inovações com a sua experiência laboratorial, o que seria uma vantagem para IPC no combativo e competitivo mundo da indústria farmacêutica. Ela também sabia que o objetivo da equipe de pesquisa especial era realizar um trabalho a longo prazo, e ninguém podia prever quanto tempo iria levar para se descobrirem novas drogas e trataemntos. Ela não podia saber por quanto tempo Nathaniel se manteria como um cientista ativo. A IPC estava investindo uma grande soma de dinheiro para levar avante esse projeto especial de pesquisa. Os gastos médicos e outros custos como seguro para invalidez, se Nathaniel começasse a desenvolver os sintomas, seriam elevados. Em vista disso a Dra. Peters decidiu listar os prós e contras da contratação de Nathaniel para seu grupo especial de pesquisa e levar essa informação para o Comitê de Seleção de Pessoal da IPC.

[O caso de Nathaniel Wu é uma situação hipotética de como informações gerada pelo Projeto Genoma Humano poderiam ser utilizadas para discriminar pessoas. O texto que vocês acabaram de ler faz parte de uma proposta de atividade do livro MAPPING AND SEQUENCING THE HUMAN GENOME: SCIENCE, ETHICS AND PUBLIC POLICY (MAPEANDO E SEQÜENCIANDO O GENOMA HUMANO: CIÊNCIA, ÉTICA E POLÍTICA PÚBLICA).



LEIA E REFLITA O TEXTO ACIMA E CONCLUA SOBRE A PROBLEMÁTICA ABAIXO

Escreva uma razão por quê a IPC deveria contratar Nathaniel Wu para seu grupo especial de pesquisa e uma razão por quê não deveria contratá-lo. Estejam preparados para discutirem essas razões com seus colegas.

Tenha em mente as seguintes questões:
1. Uma empresa tem direito de submeter seus funcionários e aspirantes a cargos a exames genéticos?
2. Tal procedimento deveria ser legalizado ou proibido por lei?
3. Empresas de seguro-saúde têm direito de solicitar exames genéticos e recusar segurados, ou cobrar preços diferenciados para os que tenham possibilidade de manifestar doenças hereditárias?

Texto do livro Biologia de José Mariano Amabis e Gilberto Rodrigues Martho volume 3 página 54 Capítulo 2 Lei da Segregação Genética

domingo, 5 de setembro de 2010

Hipótese Heterotrófica x Hipótese Autotrófica

HIPÓTESE HETEROTRÓFICA


Segundo essa hipótese, os primeiros organismos eram estruturalmente muito simples, sendo de se supor que as reações químicas em suas células também seriam simples. Eles viviam em um ambiente aquático, rico em substâncias nutritivas, mas provavelmente não existia oxigênio na atmosfera, nem dissolvido na água dos mares. Nessas condições, é possível supor que, tendo alimento abundante ao seu redor, esses primeiros seres teriam utilizado esse alimento já pronto como fonte de energia e matéria-prima. Eles seriam, portanto, heterotróficos (hetero = diferente; trofos = alimento): organismos que não são capazes de sintetizar seus próprios alimentos a partir de compostos inorgânicos, obtendo-os prontos do ambiente.

Os seres capazes de sintetizar seus próprios alimentos a partir de substâncias inorgânicas simples são chamados de autotróficos (auto = próprio; trofos = alimento), como é o caso das plantas.

Uma vez dentro da célula, esse alimento precisa ser degradado. Nas condições da Terra atual, a via metabólica mais simples para se degradar alimento sem oxigênio é a fermentação, um processo anaeróbio (an = sem; aero = ar; bio = vida). Um dos tipos mais comuns de fermentação é a alcoólica. O açúcar glicose é degradado em álcool etílico (etanol) e gás carbônico, liberando energia para as várias etapas do metabolismo celular.

Esses organismos começaram a aumentar de número por reprodução. Paralelamente a isso, as condições climáticas da Terra também estavam mudando a ponto de não mais ocorrer síntese pré-biótica de matéria orgânica. Desse modo o alimento dissolvido no meio teria começado a ficar escasso.

Com o alimento reduzido e um grande número de indivíduos nos mares, deve havido muita competição, e muitos organismos teriam morrido por falta de alimento. Ao mesmo tempo, teria se acumulado CO2 no ambiente. Acredita-se que nesse novo cenário teria ocorrido o surgimento de alguns seres capazes de captar a luz solar com o auxílio de pigmentos como a clorofila. A energia da luz teria sido utilizada para a síntese de seus próprios alimentos orgânicos, a partir de água e gás carbônico. Teriam surgido assim os primeiros seres autotróficos: os seres fotossintetizantes (foto = luz; síntese em presença de luz), que não competiam com os heterotróficos e proliferaram muito.

Esses primeiros seres fotossintetizantes foram fundamentais na modificação da composição da atmosfera: eles introduziram oxigênio no ar, e a atmosfera teria passando de redutora para oxidante. Até os dias de hoje, são principalmente os seres fotossintetizantes que mantém os níveis de oxigênio na atmosfera, o que é fundamental para a vida do nosso planeta. Em condições de baixa disponibilidade de moléculas orgânicas no meio, esses organismos aeróbios teriam grande vantagem sobre os fermentadores.

Havendo disponibilidade de oxigênio, foi possível a sobrevivência de seres que desenvolveram reações metabólicas complexas, capazes de utilizar esse gás na degradação do alimento. Surgiram, então, os primeiros seres aeróbios, que realizavam respiração. Por meio da respiração, o alimento, especialmente o açúcar glicose, é degradado em gás carbônico e água, liberando muito mais energia para a realização das funções vitais do que na fermentação.

A fermentação, a fotossíntese e a respiração permaneceram ao longo do tempo e ocorrem nos organismos que vivem atualmente na Terra. Todos os organismos respiram e/ou fermentam, mas apenas alguns respiram e fazem fotossíntese.


Hipótese Heterotrófica

Fermentação → Fotossíntese → Respiração Aeróbica



HIPÓTESE AUTOTRÓFICA

Alguns cientistas tem argumentado que os seres vivos não devem ter surgido em mares rasos e quentes, como proposto por Oparin e Haldane, pois a superfície terrestre, na época em que a vida surgiu, era um ambiente muito instável. Meteoritos e cometas atingiam essa superfície com muita frequência, e a vida primitiva não poderia se manter em tais condições.

Logo no início da formação da Terra,meteoritos colidiam fortemente com a superfície terrestre, e a energia dessas colisões era gasta em derretimento ou até mesmo na vaporização da superfície rochosa. Os meteoritos fragmentavam-se e derretiam contribuindo com sua substância para a Terra em crescimento. Um impacto especialmente violento pode ter gerado a Lua, que guarda até hoje em sua superfície as marcas desse bombardeio por meteoritos. Na superfície da Terra a maioria dessas marcas foi apagada ao longo do tempo pela erosão.

A maioria dos meteoritos se queima até desaparecer quando entra na atmosfera terrestre atual e brilha no céu como estrelas cadentes. Nos primórdios os meteoritos eram maiores, mais numerosos e atingiam a Terra com maior frequência.

Alguns cientistas especulam que os primeiros seres vivos não poderiam ter sobrevivido a esse bombardeio cósmico, e propõe que a vida tenha surgido em locais mais protegidos, como os assoalhos dos mares primitivos.

Em 1977, foram descobertas nas profundezas oceânicas as chamadas fontes termais submarinas, locais onde emanam gases quentes e sulfurosos que saem das aberturas do assoalho marinho. Nesses locais há vida abundante. Muitas bactérias que aí vivem são autótrofas, mas realizam um processo muito distinto de síntese. Onde essas bactérias vivem não há luz, e elas são a base da cadeia alimentar peculiar. Elas servem de alimento para os animais ou são mantidas dentro dos tecidos deles. Nesse caso tanto bactérias como animais se beneficiam: elas têm proteção dentro do corpo dos animais, e estes recebem alimentos produzidos por estas bactérias.

A descoberta das fontes termais levantou a possibilidade de que a vida teria surgido nesse tipo de ambiente protegido e de que a energia para o metabolismo dos primeiros seres vivos viria de um mecanismo autotrófico denominado quimiossíntese. Alguns cientistas acreditam que os primeiros seres vivos foram bactérias, que obtinham energia para o metabolismo a partir da reação entre substâncias inorgânicas, como fazem as bactérias encontradas atualmente nas fontes termais submarinas e em outros ambientes muito quentes (com cerca de 60 a 105°C) e sulfurosos. Segundo essa hipótese, parece que toda a vida que conhecemos descende desse tipo de bactéria. Que deveria se autotrófica.

Os que argumentam a favor dessa hipótese baseiam-se nas evidências que sugere a abundância de sulfeto de hidrogênio (gás sulfídrico, H2S) e compostos de ferro na Terra primitiva. As primeiras bactérias devem ter obtido energia das reações que tenham envolvido esses compostos para a síntese de seus compostos orgânicos.

Algumas bactérias que vivem atualmente em fontes quentes e sulfurosas podem realizar a reação química a seguir, que segundo a hipótese autotrófica, pode ter sido a reação fundamental fornecedora de energia para os primeiros seres vivos.

sulfeto ferroso + gás sulfídrico → sulfeto férrico + gás hidrogênio + energia

A energia liberada por essa reação pode ser usada pelas bactérias para a produção de compostos orgânicos para a vida, a partir de CO2 e H2O.

Assim, segundo essa hipótese, a quimiossíntese – um processo autotrófico teria surgido primeiro. Depois teriam surgido a fermentação e finalmente a respiração aeróbia. A hipótese autotrófica vem ganhando cada vez mais força.

sábado, 4 de setembro de 2010

Nomenclatura e Classificação dos Seres


Todos conhecemos os animais e as plantas por algum nome, que muda conforme a localidade, região e/ou país onde se encontra a espécie. Se todos conhecessem uma mesma espécie (animal ou vegetal) com nomes diferentes, e iniciassem uma conversa sobre ele, logo pensariam que estavam falando de espécies muito parecidas, mas não da mesma espécie. De fato, esta confusão criada com os diferentes nomes vulgares (nomes que utilizamos para chamar comumente as espécies) sempre foi um problema na Biologia, qualquer que fosse o ramo de estudo e/ou pesquisa.

Em uma tentativa de universalizar os nomes de animais e plantas, já de há muito os cientistas vinham procurando criar uma nomenclatura internacional para a designação dos seres vivos. No primeiro livro de Zoologia publicado por um americano, Mark Catesby, por volta de 1740, houve uma tentativa de "padronizar" o nome de um pássaro, o tordo americano, de tal forma que ele pudesse ser conhecido em qualquer idioma, mas o nome dado ao pássaro era demasiado grande para descrever uma ave tão pequena. Já em 1735, o sueco Karl von Linné, botânico e médico, conhecido como Linneu, lançava seu livro "Systema Naturae", onde propunha regras para classificar e denominar animais e plantas. Mas só na 10a edição do seu livro, já em 1758, foi que ele propôs efetivamente uma forma de nomenclatura mais simples, em que cada organismo seria conhecido por dois nomes apenas, seguidos e inseparáveis. Assim surgiu a nomenclatura binominal moderna.

As regras atuais para a denominação científica dos seres vivos, incluindo os animais já extintos, foram firmadas com base na obra de Lineu, no I Congresso Internacional de Nomenclatura Científica, em 1898, e revistas em 1927, em Budapeste, Hungria.

As principais regras são:

¤ Na designação científica, os nomes devem ser latinos de origem ou, então, latinizados.

¤ Em obras impressas, todo nome científico deve ser escrito em itálico (tipo de letra fina e inclinada), diferente do corpo tipográfico usado no texto corrido. Em trabalhos manuscritos, esses nomes devem ser grifados. Ex.: Canis familiaris.

¤ Cada organismo deve ser reconhecido por uma designação binominal, onde o primeiro termo identifica o seu gênero e o segundo, sua espécie. Mas considera-se erro grave o uso do nome da espécie isoladamente, sem ser antecedido pelo nome do gênero.

¤ O nome relativo ao gênero deve ser um substantivo simples ou composto, escrito com inicial maiúscula.

¤ O nome relativo à espécie deve ser um adjetivo escrito com inicial minúscula (* salvo raríssimas exceções: Nos casos de denominação específica em homenagem a pessoa célebre do próprio país onde se vive, consente-se o uso da inicial maiúscula.). Ex.: Trypanosoma Cruzi.

¤ Em seguida ao nome do organismo é facultado colocar, por extenso ou abreviadamente, o nome do autor que primeiro o descreveu e denominou, sem qualquer pontuação intermediária, seguindo-se depois uma vírgula e a data em que foi publicado pela primeira vez (* Não confundir o nome do autor (mencionado após a espécie) com subespécie, uma vez que esta última é grafada com inicial minúscula e é escrita com o tipo itálico, enquanto o nome do autor tem sempre inicial maiúscula e não é grafado em itálico.).

¤ Conquanto a designação seja uninominal para gêneros e binominal para espécies, ela é trinominal para subespécies. Ex.: Mycobacterium tuberculosis bovis / Mycobcaterium tuberculosis homini.

¤ Em Zoologia, o nome da família é dado pela adição do sufixo - idae ao radical correspondente ao nome do gênero-tipo. Para subfamília, o sufixo usado é - inae.

¤ Algumas regras de nomenclatura Botânica são independentes das regras de nomenclatura zoológica. Os nomes de família, por exemplo, nunca têm para as plantas o sufixo -idae, mas quase sempre levam a terminação -aceae.

¤ Lei da Prioridade: Se para um mesmo organismo forem dados nomes diferentes, por autores diversos, prevalece a primeira denominação. A finalidade dessa regra é evitar que a mesma espécie seja designada por diferentes nomes científicos, o que acarretaria confusão idêntica à que existe com os nomes vulgares.

Observação: Em casos excepcionais, é permitida a substituição de um nome científico, mas para isso adota-se uma notação especial, já convencionada, que indica tratar-se de espécime reclassificado. Assim, quando um especialista muda a posição sistemática de um ser que anteriormente já recebera denominação científica, e o coloca em outro gênero, a notação taxionômica correta deve assumir uma das formas abaixo:

A) Menciona-se o nome antigo entre parênteses, depois do gênero e antes do nome específico.

B) Ou, então, menciona-se o nome do organismo já no novo gênero e, a seguir, entre parênteses, o nome do primeiro autor e a data em que denominou aquele ser; só então, já fora dos parênteses, coloca-se o nome do segundo autor e a data em que reclassificou o espécime.

Já a divisão dos seres vivos é feita de forma a agrupar seres semelhantes em grupos distintos de outros. O estudo descritivo de todas as espécies de seres vivos e sua classificação dentro de uma verdadeira hierarquia de grupamentos constitui a sistemática ou taxionomia. Até há algum tempo atrás, distinguiam-se a sistemática zoológica, referente aos animais, e a sistemática botânica, referente às plantas. Atualmente, a divisão dos seres assumiu um grau de complexidade maior, possuindo cinco reinos.

Para um entendimento da funcionalidade das divisões taxionômicas dos seres, é necessário o conhecimento de conceitos básicos, que estão inseridos em conjuntos, e cada conjunto está, por sua vez, inserido em um conjunto maior e mais abrangente. Estes conceitos são, em ordem crescente:

» Espécie: é um grupamento de indivíduos com profundas semelhanças morfológicas e fisiológicas entre si, mostrando grandes similaridades bioquímicas, e no cariótipo (quadro cromossomial de células haplóides), com capacidade de se cruzarem naturalmente, originando descendentes férteis.

» Gênero: é o conjunto de espécies que apresentam semelhanças, embora não sejam idênticas.

» Família: é o conjunto de gêneros afins, isto é, muito próximos ou parecidos, embora possuam diferenças mais significativas do que a divisão em gêneros.

» Ordem: é um grupamento de famílias que têm semelhanças.

» Classe: é a reunião de ordens que possuem fatores distintos de outras, mas comum às ordens que a ela pertencem.

» Filo (Ramo): é a reunião de classes com características em comum, mesmo que muito distintas entre si.

» Reino: é a maior das categorias taxionômicas, que reune filos com as características comuns a todos, mesmo que existam diferenças enormes entre eles. Possui apenas cinco divisões: Animalia (Metazoa), Vegetalia (Plantae), Fungi, Protistis e Monera.

A partir destes conjuntos, a ordem é:

Espécies < Gêneros < Famílias < Ordens < Classes < Filos (Ramos) < Reinos

Onde lê-se que as espécies estão inseridas nos gêneros, que estão inseridos nas famílias, que estão inseridas nas ordens, que estão inseridas nas classes, que estão inseridas nos filos (ramos), que por sua vez estão inseridos nos reinos.

Uma observação deve ser feita: os VÍRUS são seres que são classificados à parte, sendo considerados como seres sem reino. Isto acontece devido às características únicas que eles apresentam, como a ausência de organização celular, ausência de metabolismo próprio para obter energia, reproduz-se somente em organismo hospedeiro, entre outras. Mas eles possuem a faculdade de sofrer mutação, a fim de adaptar-se ao meio onde se encontram.

Um exemplo de classificação taxonômica: o cão